Um travesseiro, um perfume... e vamos falar de amor?
- May Araújo Schuhart
- 18 de abr. de 2019
- 2 min de leitura

É dia dezessete. Especificamente dezessete de abril.
Há cerca de nove anos eu te conheci. E a história do primeiro ano foi ruim. Éramos jovens, imaturos e não deu certo. Ela poderia ter se encerrado ali.
Mas um ano depois, o amor sorriu para nós de novo.
2.735 dias de amor. Sim, completamos 2.735 dias juntos, e ainda é amor. Ou o correto seria dizer que agora que é amor?
Costumo ouvir que amor é aquilo que permanece quando todo o resto se vai. Quando as luzes se apagam, quando o dinheiro falta, quando a rotina sufoca, quando a doença acomete.
Eu lembro que quando casamos não fizemos votos, mas isso nunca foi necessário. Não são as palavras ditas, são as atitudes tomadas.
Quando eu adoeci, você permaneceu são.
Quando eu desfaleci por inúmeras vezes, você carregou meu corpo emagrecido escada acima. Mais de uma vez, você me aninhou nos braços, me suportou, secou minhas lágrimas e me fortaleceu.
Enquanto o café quentinho da minha mãe era a forma de amor incondicional dela, a tua era me acolher, me carregar.
Quantas vezes foi a minha comida preferida, que você cozinhou com tanto amor, um alento. Outras, pequenos gestos. Tantas vezes foram palavras, escritas ou ditas, que me fizeram respirar.
Às vezes acho que você deixava teu perfume espalhado pela casa de propósito, como se dissesse, estou no trabalho, mas estou aqui com você.
Você saía de manhã, e eu ficava. Às vezes sem propósito nenhum. Mas eu deitava do teu lado da cama, pousava a cabeça suavemente no teu travesseiro, e absorvia cada gota do teu perfume misturado ao teu cheiro que pairava ali.
Eu fui superando, dia após dia, ganhando uma força, um novo objetivo.
No meu coração, o amor sempre se tornou maior. Como isso é possível? Não sei. Mas sei que o amor é sustentado pelo esforço que cada um faz para mantê-lo, e nós o sustentamos até aqui.
Nunca foi perfeito. E não será. Mas não é disso que vive o amor que fica. A utopia da perfeição não sustenta um relacionamento composto por duas pessoas cheias de falhas e defeitos. É a forma como você cuida dele que o torna duradouro.
As vezes, eu ainda tenho a mania de titubear, de não acreditar muito em mim. E por vezes, ainda penso que não vou conseguir.
Mas, tu me abraça. Vem de mansinho, no pé do ouvido tu diz que me apoia, que acredita em mim. Que juntos nós vamos conseguir.
Eu encontro paz.
A gente deita de conchinha, e eu durmo segura. Sei que na manhã seguinte, quando tu sair para trabalhar, teu travesseiro vai estar lá. Nele vai conter teu cheiro, teu perfume e umas palavras de amor ditas no silêncio.
Verdade seja dita, nesse mundo louco a gente deveria parar de falar em desapego, em amor de conto de fadas e devia falar de amor real, de mundo real, de amor em tempos de dificuldade e de permanecer quando nada mais fica.
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