HOJE...

Minha mesa está uma bagunça... Canetas, lápis, marca-textos, cadernos... tudo está espalhado.

Há um calendário com datas definidas, um cronograma detalhando três editais e uma lista de conteúdos. O fato é que eu deveria estar estudando.

Mas, hoje, meu coração está triste como esse dia nublado. Uma saudade que não se explica direito. Uma nostalgia, e uma mistura de sentimentos que me fazem pensar.

Na minha playlist, os sucessos anos 2000 a 2005 tocam ao fundo. E nesse exato momento, enquanto escrevo essas linhas toca Jota Quest – Só hoje.

E eu penso em tantas coisas felizes e saudosas.

Quem, na minha idade, não se lembra de momentos especiais ao som dessa música na adolescência?

Eu sei que essa música fala de amor entre casais, mas me fez pensar em tanta gente cuja presença não se encontra mais aqui no plano terreno.

Quantas pessoas com quem eu queria estar, hoje, só hoje!

Ouvir qualquer palavra, tomar um café, ouvir uma frase exagerada que me fizesse sentir alegria em estar viva? Alguém cuja presença me deixasse feliz, com qualquer humor, com qualquer sorriso...

E embora não possamos voltar no tempo como num click e partilhar desses momentos com quem já nos deixou, podemos estar HOJE com os que ainda nos cercam.

Antes de adoecer, eu queria viver tudo ao mesmo tempo, sofria pelo que não tinha acontecido e planejava tudo. Não conseguia aproveitar o presente porque estava ocupada demais fazendo planos. E então a vida ia passando... rápida, devastadora, intensa e eu ia perdendo muitos momentos.

Adoecer me fez parar, literalmente parar, foram dias e dias sob efeito de medicação.

Corpo desfalecido na cama ou no sofá.

Desligada do mundo real e presa em um mundo que eu nem pensava se poderia me libertar um dia.

O trabalho tinha ficado pra trás, meu guarda-roupas cheio de roupas e sapatos, minhas joias, meus acessórios... Tudo! Naquele momento, substituído por um pijama e meias...

Sob os cuidados intensos da minha mãe, as ligações preocupadas do meu pai, e os olhares atentos do meu marido, os dias iam passando e eu continuava ali.

Mas adoecer me ensinou lições valiosas, sobre amor verdadeiro, cuidado, verdade, paz interior, das quais, muitas já tenho compartilhado aqui.

Mas algumas são importantes demais para não repetir: Viver um dia de cada vez, provar uma coisa de cada vez, apreciar cada momento, cada comida, cada bebida, cada pessoa, cada sentimento, cada palavra.

Viver o hoje como se amanhã não existisse.

Ter fé, acreditar em um ser superior.

Abraçar, dizer coisas bonitas, se colocar no lugar do outro, amar sem medidas e não fazer planos.

Para mim, essa foi a coisa mais praticada e também a mais difícil. Até porque, muitas vezes eu nem sabia como poderia ser o amanhã. Alguns dias existiam no mundo real e outros só existiam no mundo que as medicações projetam para nós.

Mas esse período me ensinou tanto, me mostrou tanto. Me mostrou que mesmo quem sorri todos os dias, pode ter seus poços profundos de angústia.

Que nem todos que achamos que estão conosco, estão de verdade, nem todo mundo consegue te ajudar quando você não tem nada a oferecer.

Adoecer me ensinou a olhar para o mundo e para as pessoas com outros olhos.

Me ensinou a abraçar as crianças com mais força, a dizer para as pessoas o quanto eu as admiro, a reatar velhas conversas, buscar e renovar velhas amizades.

Eu aprendi gentileza.

Aprendi a me doar um pouquinho para o próximo.

Aprendi a amar mais, a ser mais humana.

Descobri tanta gente linda de coração, e percebi que tinha tanta gente que me amava que eu nem sabia.

Hoje, eu aprendi a não perder mais tempo com quem não me acrescenta.

Minha lista de amigos só conta com gente que faz meu coração transbordar.

Tudo no mundo floresce com a quantidade de amor que despejamos sobre.

Adoecer foi doloroso, mas todo aprendizado é.

HOJE, eu aprendi tanto, eu mudei tanto...

Eu só quero ser melhor para as pessoas que eu amo e que estão ao meu lado.

Eu só quero ser melhor para o mundo que está ai, já tem coisa ruim demais acontecendo.

E embora em dias nublados como hoje, uma dorzinha, uma tristeza, uma saudade, uma nostalgia triste apareça... É nisso que eu busco forças.

Um soco no estômago te deixa alguns segundos sem poder respirar, mas quando você consegue... Ah! você só quer estar mais forte para revidar.

No meu caso, HOJE, eu só quero revidar essas coisas de peito aberto, com o coração cheio de amor, tentando ser o melhor que eu posso ser.

Se você me conhecia antes de adoecer, acredito que HOJE, talvez você não me reconheça mais.

Mas acredite, estou melhor.

Quem sabe HOJE, você queira tomar um café comigo, ouvir alguma coisa que te faça sorrir.

Quem sabe HOJE, a gente possa celebrar a alegria de uma presença do bem!