Pluma no vento...

O relógio digital do celular marca 1h40min.

Eu ainda não consegui dormir.

Seja pelos fatos que me afligem, pela tristeza que me afeta ou pela preocupação que me domina.

Enquanto eu me reviro nos lençóis, pessoas que eu amo fazem uma viagem longa...

E outras distantes, quase mil quilômetros, choram.

Eu estou aqui e choro, não poder estar lá não me torna menos sentimental.

Os laços de sangue me unem e me transbordam, independente da presença.

É a vida.

E ela é injusta.

Mas não acho que seja a falta de justiça no plano terreno que tanto me entristeça.

É a sua efemeridade que me abala.

Hoje, você brinda uma boa notícia, e amanhã você chora uma.

Parabéns não é um câncer, epa! Espere ai!

A vida acabou de levar uma das pessoas que você ama.

Você acorda, beija os que ama, toma café, vai para o trabalho, e quando seu celular toca, simplesmente é a tristeza batendo na sua porta.

Você já parou pra pensar no quão finitos somos?

Às vezes, deixamos de ir a um jantar, a uma festa, um aniversário, porque afinal “não temos tempo”, mas sempre arrumamos tempo para nos reunir para um funeral.

Uma pessoa que amo muito, nos deixou.

Sem aviso, sem doença, sem recado, sem despedida.

Sua senha chegou e fim.

E comecei a pensar, quantas vezes você guardou aquele vinho pra amanhã?

Aquela cerveja especial.

Um vestido, aquele sapato caro.

Os brincos novos, aquele terno.

Aquela fatia de bolo.

Aquela caneta especial.

Quantas vezes você deixou de ouvir aquela música preferida pelo que os outros iriam pensar, quantas vezes deixou de dançar porque tinha alguém olhando?

Quantas noites você deitou sem dizer que amava as pessoas importantes da sua vida, ou deixou de agradecer ao criador pelo seu dia?

Quantas vezes você economizou, deixou de comer algo ou passear, para adquirir algo?

Espere! Não me entenda mal, não sou contrária a adquirirmos bens necessários ao nosso conforto e subsistência, mas acumular pra quê?

Dessa vida, a gente não leva nada.

Não escolhe nada.

A gente deixa tudo.

Mas a coisa mais importante que a gente deixa é a forma que viveu o pouco tempo que nos foi dado aqui.

Uma canção que eu gosto muito diz que somos apenas pluma no vento.

E sim, nós somos.

Em um sopro estamos aqui, e no momento seguinte não mais.

Há remédio para todas as coisas, mas não para nossa partida.

Viver é hoje, é estar aqui.

É beijar demorado, abraçar, visitar, reunir.

O ontem não recupera, o amanhã é ilusório.

Tudo que podemos fazer, se concentra no hoje, no agora.

Não sei explicar a vastidão de sentimentos que me domina, não sei descrever o tamanho da tristeza, saudade e dor que meu coração está sendo capaz de suportar nesse momento.

Mas de uma coisa eu tenho certeza: em nenhum dia da minha vida, pelos próximos anos, eu quero deitar na minha cama no final de um dia, sem ter feito a diferença pelo menos em uma pessoa.

Sem dizer que eu amo pessoas importantes na minha existência.

Sem pedir perdão pela minha constante imperfeição.

Eu não sei se 2019 te ensinou alguma coisa, mas para mim, ele ensinou que depois não existe.

Que não importa quanto dinheiro, ou quantos planos, ou o que quer que seja que você tenha decidido, a vida não perdoa, ela se finda de repente.

E tudo fica pra trás.

Você só leva o amor que recebeu, as coisas que comeu, a felicidade que partilhou, os momentos que eternizou.

O restante fica, se perde.

As roupas estragam, o dinheiro acaba, o status se finda, a memória se apaga.

Só o amor ultrapassa o tempo, o infinito e a nossa ausência terrena.

Ei, a vida é hoje, agora!

Decida viver o curto espaço de tempo que o Eterno te permitir estar aqui da melhor maneira possível.

Seja grato, espalhe amor, perdoe, peça perdão, abrace, sorria, dance na chuva, guarde sua fé, mas faça hoje!

Amanhã pode nem dar tempo!